quinta-feira, 12 de abril de 2012

Arqueologia experimental ou a “engenharia inversa” de recipientes cerâmicos do Bronze Final: Parte 1 - Sessão de modelação com argilas



No seguimento de alguns testes de modelação e cozedura com argilas do Outeiro do Circo e como preparação para outras actividades de estudo e divulgação do sítio (a anunciar oportunamente), parte da equipa que estuda os materiais cerâmicos do Outeiro do Circo e um outro colega (Sofia Silva, Diana Fernandes, Ana Osório e Diogo Delgado) realizou uma sessão de arqueologia experimental de modelação cerâmica. Esta sessão insere-se num conjunto de experiências que pretendem seguir todo o processo de manufactura e que terão continuidade com a cozedura em várias condições diferentes (Parte 2) e quebra dos recipientes (Parte 3).


O desafio desta sessão específica foi a modelação de algumas formas manuais bem documentadas arqueologicamente, através de técnicas distintas: repuxamento de bola; rolos sobrepostos; placas e molde. O objectivo foi não só testar a exequibilidade das técnicas na criação das formas selecionadas mas também documentar as evidências deixadas por cada um dos recipientes. Assim, testou-se a técnica dos rolos na modelação de um pote fechado semelhante aos do Bronze Final decorados por brunimento da região de Alpiarça; e a técnica das placas, para construir uma taça hemisférica e duas taças carenadas (em que uma já beneficiou com a aprendizagem e dificuldades sentidas na primeira). Testou-se ainda uma técnica mista com repuxamento e placas para fazer uma forma de prato covo, frequente nas Penínsulas de Lisboa e Setúbal e na região do Guadiana no mesmo período. Como a taça hemisférica não estava a resultar muito bem pela técnica das placas experimentou-se a modelação em molde que se revelou muito fácil.


Os resultados deste grupo de teste sobre argila comercial e de telha (pré-preparados de maneiras variadas) serão depois comparados com os já obtidos com as argilas do Outeiro do Circo, para observar até que ponto matérias primas distintas trabalhadas pelos mesmos gestos permitem indentificá-los e reconhecer evidências macroscópicas da modelação, como é proposto por alguns autores.

Bibliografia interessante sobre o tema:


Harry, K., Frink, L., O'Toole, B., & Charest, A. (2009). How to Make an Unfired Clay Cooking Pot: Understanding the Technlogical Choices Made by Artic Potters. Journal of Archaeological Method and Theory, Vol. 16 , 33-50.


Rye, O. S. (1981). Pottery Technology, Principles and Reconstruction. Washington, D.C.: Taraxacum, Manuals on Archaelogy, Vol. 4,.


Ana Bica Osório; Doutoranda em Arqueologia na Universidade de Coimbra. Investigadora integrada no CEMUC e colaboradora no CEAUCP/CAM. Bolseira da FCT (SFRH / BD / 42397 / 2007). Colaboradora do Projecto Outeiro do Circo.

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